Por Gerson Nogueira
O Vitória está bem próximo de garantir acesso à Série A. Sua campanha é excelente. Tem 20 vitórias, 6 empates e 8 derrotas. Marcou 35 gols, sofreu 15. Conquistou 66 pontos. Um quadro assim indicaria que a vida está resolvida e o ambiente respira aquele ar de mil maravilhas, certo? Ledo engano. O tradicional clube baiano pode passar à história como o primeiro a subir de divisão – seu principal projeto na temporada – em meio a uma crise descomunal, motivada pela irascibilidade de torcedores mentecaptos.
As cenas dantescas foram exibidas na TV e estão disponibilizadas na internet. Um bando uniformizado, dizendo-se fã do Vitória, quase impediu o embarque da delegação para São Paulo, onde enfrentaria o Bragantino, no sábado passado. Por vários minutos, os jogadores se amotinaram no ônibus, esperando reforço policial para entrarem na área de embarque do aeroporto de Salvador.
Enquanto isso, os atletas ouviam todo tipo de ameaças e xingamentos. Um dos mais hostilizados, chegando a receber empurrões, foi o garoto Gabriel, zagueiro revelado nesta temporada pela fabulosa máquina de formar craques montada há mais de dez anos no Barradão.
Coincidência ou não, Gabriel foi responsável direto pela construção da derrota frente ao Bragantino. Tenso e assustado, errou um passe na intermediária e, na sequência, viu-se obrigado a derrubar um atacante adversário que partia para marcar o gol. Além do pênalti, foi expulso no ato, desfalcando a equipe. Sem conseguir se organizar, o Vitória perdeu de 3 a 0, revelando nitidamente a instabilidade provocada pela furiosa manifestação dos torcedores.
Segundo a imprensa baiana, o ato foi isolado e não corresponde ao sentimento de toda a torcida do Vitória. Se a informação serve de consolo, por outro lado demonstra a vulnerabilidade existente nos clubes mais populares, onde campeia esse tipo de organização paralela, vulgarmente conhecida como “torcida organizada”.
Como todos os grandes clubes brasileiros, Paissandu e Remo convivem com essa anomalia há anos. Exaltados, briguentos e extremamente violentos quando em bando, esses agrupamentos não contribuem para nada, nem mesmo em termos de arrecadação, pois quase sempre são bancados (e até patrocinados) por dirigentes irresponsáveis e oportunistas.
Ao invés de ajudarem a conquistar novos adeptos, os “organizados” afugentam os torcedores normais. Comportam-se como baderneiros – e fazem questão de demonstrar isso a todo instante. Intimidam, agridem e assaltam dentro e fora dos estádios. Nas ruas, não poupam ninguém. Elegem alvos a esmo, bastando que o cidadão esteja vestindo o uniforme do time adversário.
Disfarça ódio irracional e gratuito com alegações de paixão extremada. A Justiça já extinguiu as facções mais turbulentas, mas elas vicejam travestidas de outros nomes ou simples mudança de siglas.
Pior que isso: atraem, por intimidação, alguns dos jogadores mais populares, que costumam bajular pateticamente esses grupos, reproduzindo gestos e símbolos na comemoração de gols, esquecendo-se de festejar com o verdadeiro torcedor.
O (mau) exemplo do Vitória deve servir de norte para os demais clubes. Quando a irracionalidade domina a cena, cabe restaurar a ordem em benefício dos normais. Os mecanismos existem, mas sua aplicação depende da boa vontade de quem dirige os clubes. Sem isso, os bárbaros continuarão em vantagem.
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A cobrança infeliz
Nesse imbróglio da cobrança da incrível taxa de R$ 30 mil pela cessão do estádio Arena Verde, em Paragominas, a posição mais equilibrada é a da diretoria do Paissandu, que anunciou que seus próximos jogos como mandante serão realizados em Santarém ou Marabá.
Nem mesmo o recuo das autoridades do município, baixando o valor da conta para pouco mais de R$ 12 mil, sanou o mal-estar provocado pela intempestiva taxação. Na verdade, Paragominas, que se beneficiou da superexposição na mídia em torno do jogo, teria que gratificar o Paissandu pela escolha da Arena Verde como palco da partida.
Para os que discordaram de meu posicionamento, quero lembrar que a situação é a mesma dos contratos firmados entre as prefeituras do interior paranaense ou mineiro com os grandes de Rio e São Paulo, principalmente Flamengo e Corinthians, para que realizem jogos em suas cidades.
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Temporada de boatos
Na temporada de especulações quanto a reforços para o Remo, depois de Rafael Paty, fontes ligadas à presidência do clube falam no retorno do volante André e do zagueiro Rafael Fernandes. Caso se confirmem, essas duas contratações seriam de grande utilidade para a reconstrução do time. Melhor ainda se Flávio Araújo, técnico campeão da Série D pelo Sampaio Corrêa, fosse o comandante, como também andam apregoando pelo Baenão. Pelo visto, apenas sonhos de uma longa noite de verão.
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Direto do Facebook:
“Amigos, vocês podem podem não acreditar, mas mesmo sendo remista torço de verdade para que o Papão conquiste mais essa vitória. O futebol paraense merece e precisa voltar a se destacar no plano nacional. Torcerei como torci na final da Copa dos Campeões”.
Do professor Hélio Mairata, azulino de quatro costados, engrossando a torcida pelo acesso do Papão.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 06)