A outra história de Plácido

Por Albanir Freitas

1375227_1431000793793744_248692916_nO jornalista Plácido Ramos acordou cedo na véspera do círio. Havia prometido levar a família pra ver a procissão fluvial. Tomou banho, passou talco nos filhos, apanhou a bíblia na gaveta do criado mudo e abriu a porta. Deu de cara com uma multidão entoando hinos à Virgem de Nazaré. Antes que pudesse se recuperar do susto, uma mulher, com o filho no colo, o interpelou: “Seu Plácido, vim a pé de Novo Repartimento, meu bebê tem caxumba, faça uma reza pra ele ficar bom!”. Outra romeira queria saber se ele curava erisipela: “Me faça essa graça, por favor.”

Um negão, fragilizado e choroso, suplicava pela volta de sua nega: “Minha vida acabou, meu santo, buábuábuá!”. Até um vereador corrupto pedia seus préstimos pra se livrar “das perseguições políticas”. “O senhor cura cavalo manco, santidade, minha éguazinha tá que não consegue andar”… “Pera lá, gente, que é que tá acontecendo aqui”, vociferou o jornalista. Mas suas palavras foram abafadas por mais cânticos e citações: “O senhor é meu pastor, nada me faltará”, “Ave, Plácido!”, “Ave, nosso salvador!”.

Já desesperado, Plácido bradou: “Gente, o único milagre que eu faço é ainda continuar narrando jogos desse time de merda do Paysandu que, por razões divinas, continua sempre em alguma divisão. Quem mandou vocês aqui, porra?”. “Foi nosso guia turístico”, respondeu um cara manco, exibindo um panfleto, impresso em mimeógrafo: “CONHEÇA O CABOCLO QUE ENCONTROU A IMAGEM DE NOSSA SENHORA DE NAZARÉ. POR APENAS 100 REAIS, ALCANCE SUA GRAÇA E VIVA FELIZ PARA SEMPRE!”.

Seguindo os dedos da multidão, Plácido avistou num canto Mário Souza, o Mariozinho, que, sorrateiro e envergonhado ante o olhar incrédulo de sua vítima, sussurrou: “É pro pato do círio, eminência, hehehehehehehe!!!”.

Sabbath põe 35 mil pessoas em órbita

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Por Jamari França

No peito de um roqueiro também bate um coração, como não diria o pai da bosta nova. O meu ficou em estado de suspensão por duas horas diante dos deuses do heavy metal. Certas experiências transcendem palavras, vão bater direto na alma, como se o corpo fosse deixado de lado. Foi o que senti transportado para não sei onde pelo som lúgubre, poderoso e massacrante do Black Sabbath. Puro êxtase.

São os graves mais poderosos do rock. Tony Iommi produz trovões com o reforço de Geezer Butler. Nos riffs, o baixo dobra a guitarra com um timbre seco e igualmente poderoso. Quando Tony sola, Geezer segura o riff no baixo, quase como uma segunda guitarra, como fazia John Entwistle em The Who. Tommy Clufetos, baterista da carreira solo de Ozzy, igualmente troveja num kit que praticamente tem tambores pra qualquer lado que ele solte as baquetas, além de mil pratos. Muito bem microfonada e amplificada, o som da batera espancava os ouvidos com sua fúria e precisão. Fui até o meio da Praça da Apoteose e o som falava pra caralho, porradão. Na instrumental Rat Salad, a Moby Dick do Black Sabbath, Clufetos fez um longo solo que delirou a platéia, martelando os dois bumbos, atacando caixa, pratos e tons numa primeira parte, depois espancando o surdo e, finalmente, num gesto ganha-multidão, metia duas porradas fuderosas na caixa, uma no prato e se levantava com as baquetas para o alto e o povo respondia com “Hei”. Foi delirantemente aplaudido.

Ozzy Osbourne não é um cantor de muitas inflexões na voz. Seu timbre metálico e gritado complementa o todo com letras em sua maioria de vertente satânica, mas ele realmente não canta aquilo a sério, ou não falaria “God bless you” ao final da maioria delas, como que exorcizando sua pregação maldita. Gente de todas as idades, 35 mil pessoas, se entregaram de corpo e alma ao show de duas horas com 15 músicas muito bem servidas. Longas porque os arranjos são sofisticados com mudanças de andamento, levadas em que Tony e Butler se complementam com perfeição, o baixo trabalhando em função da guitarra e não da bateria. Geezer escorava os riffs de Tony e, entre um e outro, metia uma rajada de notas, sem falar no solo que fez manipulando um pedal de wah wah.

41_1449-alt-abtonyOs três mostraram boa forma física, além da excelência musical. Iommi, em tratamento contra um câncer, se movimentou, ficou em pé o tempo todo e pilotou com maestria três guitarras Gibson SG, sua favorita. Ozzy foi um perfeito animador, dava suas corridinhas ao estilo Valdirene de Amor à Vida ou ela que corre ao estilo dele, regeu a multidão fazendo-a berrar do piano ao fortíssimo e distribuindo suas frases de efeito> “I can’t fucking hear you” e o povo berrava. “I’m fucking crazy. It’s good to be crazy sometimes. Get crazy”, “You are beautiful, you are number one”. E até mastigou um morcego de plástico ou borracha que apareceu no palco.

O setlist foi igual aos das outras apresentações, ênfase nos primeiros discos, já que a proposta dessa volta e do álbum 13 foi recriar o som e a atmosfera dos primeiros anos, claro que com muito mais poder de fogo graças à experiência de 40 anos de estrada. Não sabemos se esta é a última vez que veremos o Sabbath, é provável porque as reuniões levam tempo para acontecer e paira uma incógnita sobre o tempo que resta a Tony Iommi, a Ozzy, a Geezer e a nós, by the way (bate na madeira). Os 35 mil que lá estiveram voaram alto sob uma meia lua que pairou sobre a Apoteose, como que interessada também em ver os deuses do heavy metal.

Enfim, todas as bandas de heavy metal se reduzem a quase pó diante de Ozzy, Butler e Tony. Acho que só o Metallica chega perto, que me perdoem os fãs das outras bandas. Estes são os criadores, os que escreveram a cartilha, os que apontaram o caminho. Black Fucking Sabbath.

Leãozinho pronto para encarar o Tigre

Foi divulgada na manhã desta segunda-feira a lista de relacionados do Clube do Remo para a partida contra o Criciúma, marcada para 18h desta quarta-feira, 16, no estádio Heriberto Hulse, em Criciúma-SC. A partida vale pelas quartas-de-final da Copa do Brasil sub-20 e será a preliminar de Criciúma x Portuguesa, pela Série A. O técnico Walter Lima ainda não definiu o time titular, mas é certo que o atacante Jayme deve voltar à equipe, depois de se recuperar de contusão. Caso o treinador azulino repita a equipe que enfrentou o Flamengo, o time deve utilizar novamente o esquema 4-3-3. Equipe mais provável: Jader; Andrei, Igor João, Ian e Gabriel (ou Sílvio); Raí, Nadson e Rodrigo; Guilherme (Sílvio), Jayme e Beto. William foi cortado da delegação para a entrada do zagueiro Gabriel. (Foto: MÁRIO QUADROS/Bola) 

Remo sub20 Igor Joao e Jayme-Mario Quadros

Jogadores relacionados:

Goleiros: Jader e Douglas.

Zagueiros: Igor João, Gabriel e Ian.

Lateral: Andrei.

Volantes: Nadson, Raí e Tsunami.

Meias: William Fazendinha e Alexandre.

Atacantes: Guilherme, Jayme, Edicléber, Rodrigão, Beto e Silvio.

Esse santo quer reza

Por Kennedy Alencar

O presidente do STF, Joaquim Barbosa, não deveria admitir que possa vir a disputar cargos eleitorais quando deixar o Supremo Tribunal Federal. Pela importância política e institucional, uma cadeira de Supremo demanda mais cuidado com as palavras e como elas podem ser interpretadas. “No dia em que deixar o Supremo, como entrei muito jovem, eu terei ainda tempo para refletir sobre isso (disputar eleição]. Acho difícil exercer a carreira no Supremo até os 70 anos. Eu não tenho no momento nenhuma intenção de me lançar candidato à Presidência. Pode ser que no futuro surja o interesse”, afirmou.

Barbosa lida com um caso delicadíssimo: o escândalo do mensalão. Há outros processos de enorme repercussão sob seus cuidados. Ao falar em seguir, eventualmente, carreira política no futuro, ele pode deixar que pairem dúvidas sobre atos seus no presente. Perguntado se tinha simpatia por algum candidato a presidente, disparou: “Muito difícil. O modelo político partidário não me agrada nem um pouco”.

Ora, a emissão de opiniões desse tipo não contribui para que alguém exerça a função de ministro do STF sem abrir a guarda para críticas. Muito menos são recomendáveis para um presidente do Supremo. Como poderá, pela lei, se filiar a um partido até o começo de abril a fim de concorrer em 2014, Barbosa deixa espaço para a seguinte especulação: se o julgamento dos embargos infringentes do processo do mensalão não der o resultado que ele espera, talvez possa mudar de ideia.

O presidente do Supremo disse que, “no momento”, não tem intenção de se candidatar a presidente. Mas também afirmou: “Pode ser que no futuro surja o interesse”. Bastaria acelerar a aposentadoria.

Rendeu pano pra manga essa palestra de hoje na Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).

Figueira quer casa cheia contra o Papão

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A vitória sobre o São Caetano fora de casa, por 2 a 0, no último sábado, recolocou o Figueirense na briga pelo acesso no Campeonato Brasileiro da Série B. E uma vitória sobre o Paissandu nesta terça-feira, às 21h50, no estádio Orlando Scarpelli, pela 30ª rodada, é fundamental. Por isso, a diretoria fez promoção nos ingressos e espera casa cheia. Quem é sócio do clube pode comprar dois ingressos por R$ 10,00, enquanto os não sócios terão que desembolsar R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia) para os setores descobertos. As vendas foram iniciadas na manhã desta segunda-feira e continuam até o início do segundo tempo da partida.

“Nós estamos acreditando e trabalhando forte para conquistar o acesso. E o apoio da torcida é muito importante, tem que haver essa parceria entre time e torcida. No último jogo, o público quase triplicou e foi muito importante para nós”, afirmou o técnico Vinícius Eutrópio. Sem muito tempo para trabalhar, o treinador decidiu manter os 11 titulares que iniciaram a partida contra o São Caetano, já que não tem nenhum problema por suspensão ou contusão.

Nesta segunda-feira, Vinícius Eutrópio realizou um treinamento com os portões fechados, priorizando os lances de bola parada. No primeiro turno, em Belém, o Papão venceu por 2 a 1. O Figueira deve entrar em campo com a seguinte formação: Tiago Volpi; William, Thiego, Nirley, Wellington Saci; Paulo Roberto, Rodrigo Souto, Maylson, Rodrigo; Pablo e Éverton Santos. (Com informações da agência AFI) 

Todo filho é pai da morte de seu pai

Por Fabrício Carpinejar

Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.

É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.

É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e instransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.

É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela – tudo é corredor, tudo é longe.

É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.

E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.

Todo filho é pai da morte de seu pai.

Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.

E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.

Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.

Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro.

A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.

Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.

A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.

Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.

Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente?

Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.

E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.

Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.

No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:

— Deixa que eu ajudo.

Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.

Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.

Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.

Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.

Embalou o pai de um lado para o outro.

Aninhou o pai.

Acalmou o pai.

E apenas dizia, sussurrado:

— Estou aqui, estou aqui, pai!

O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali.

Os muitos Vinícius

1395848_10200487036570280_220199821_n– Para as mulheres, ele tinha sempre o verso certo do poeta, a canção ao pé do ouvido
– Do convívio no bar, aprendeu a ironia, a galhofa, a provocação. Do Itamaraty, ganhou formalidade e autoridade
– Hoje, perto de seu centenário, ele segue amado por negros e brancos, brasileiros e estrangeiros, homens e mulheres.
Vinicius influenciou o mundo com a bossa nova nos anos 1950, influenciou de novo com os afro-sambas nos 1960 e seguiu como símbolo da cultura brasileira, um percurso que, em vez de ser interrompido por sua morte, em 9 de julho de 1980, foi, sim, fortalecido.
Vinicius teve nove mulheres e deixou cinco filhos. Escreveu centenas de poemas, lançou dois livros de prosa, compôs mais de 250 canções, foi responsável por cinco textos teatrais e colaborou com jornais discorrendo sobre cinema, música e literatura. Foi diplomata, servindo em países como Estados Unidos, França e Uruguai, até ser exonerado do Itamaraty por seu não alinhamento com a ditadura militar. Também gostava de beber e de fumar: são famosas suas noites de boemia ao lado de amigos e parceiros, como Tom Jobim.