Os golpistas e a jogada da Copa

Por Gabriel Priolli – via Blog do Miro

Seis meses depois dos protestos que tomaram inúmeras cidades brasileiras, decantadas as insatisfações apresentadas pelos manifestantes e as múltiplas soluções aventadas por todos os atores políticos para a estranha crise que se formou, temos um quadro bem claro. A maioria da população quer mudanças no país, mas prefere que elas sejam conduzidas por Dilma e não pela oposição. A presidenta lidera em todas as sondagens de intenção de voto.
Falta muito tempo até as eleições, certamente, e já assistimos a oscilações espetaculares de intenção de voto nos pleitos anteriores, inclusive candidaturas que “atropelaram” na reta final e venceram. Tudo pode acontecer, portanto, até que se proclamem os resultados. Mas, até segunda ordem, quem lidera é Dilma. A soma dos votos de seus adversários não supera os votos da candidata governista e tudo indica que a eleição será definida já no primeiro turno.
Sim, mas há um outro roteiro possível para este ano. Nele, as massas sairiam novamente às ruas em junho, em plena Copa do Mundo, e causariam tal transtorno à competição que seria impossível ignorá-las. A mídia mundial distribuiria a todo o globo imagens de multidões pedindo reformas, de black blocs destruindo seus alvos habituais e das polícias reprimindo com a cortesia conhecida.
As cenas passariam a impressão de um país sem governo e de um governo sem legitimidade – impressões absolutamente falsas. Mas o que é mesmo a verdade, nessas coisas da mídia e da enunciação de seus conteúdos?
Um governo “ilegítimo”, pressionado externamente, ficaria acuado também pelos adversários internos. Estes amplificariam ao máximo possível os protestos e tentariam conduzir a sua pauta, exatamente como fizeram em 2013. Para criar um clima de megacrise, que nenhum ponto de contato tem com o real. Mas o que é exatamente o real, quando se tem o controle do que a mídia diz sobre ele?
Quem sabe se, em meio ao eventual fiasco da Copa – corre-corre e pancadaria nas imediações dos estádios, os inevitáveis problemas organizativos amplificados ao extremo, as queixas e angústias dos turistas constrangidos pelo clima de guerra política no Brasil e, prêmio final, uma boa derrota da seleção nacional -, os eleitores não embarquem na ideia de jogar toda a culpa em Dilma? Quem sabe não escolham na urna uma alternativa de oposição?
Acumulam-se as evidências de que setores conservadores, descrentes de sua capacidade de sedução do eleitorado pelas vias convencionais, cogitam se lançar na aventura catastrofista da Copa. Pretendem que o maior evento já realizado no país fracasse espetacularmente, para o máximo constrangimento e desgaste do governo atual. Acham que colherão os louros dessa ação de lesa-pátria.
É simplesmente doentia a ideia de que, para conquistar o poder de “consertar” o país, alguém considere aceitável que a nossa imagem internacional seja destruída. Que o Brasil seja penalizado por décadas, pela “incapacidade” de realizar grandes eventos internacionais. E que isso aconteça fundamentado em mentira e manipulação da opinião pública.
Mas, infelizmente, a possibilidade é bastante concreta. Daqui até junho, provavelmente veremos novas convocatórias para que as massas voltem às ruas e façam manifestações “espontâneas”. Assistiremos à incitação explícita de atos destinados à desestabilização do governo. “Não vai ter Copa!”, bradarão outra vez os carbonários – com todas as câmeras e microfones à sua disposição.
Dias atrás, na primeira vez em que externei essa preocupação, recebi o previsível fogo de barragem. Disseram que é paranoia minha, exagero. Que as convicções democráticas da oposição e de sua mídia são inquestionáveis. E que a eleição transcorrerá dentro das regras, sem tentativas de tapetão.
Será mesmo? O pré-golpe de 1964, em que muitos não acreditavam que a legalidade fosse demolida, talvez nos ensine melhor sobre os métodos do conservadorismo para tomar o poder. E sobre como ele é campeão em destruir a democracia, para “salvá-la” da ameaça dos governos populares.
Por que deveríamos confiar agora em quem não foi confiável no passado e segue não sendo?

10 comentários em “Os golpistas e a jogada da Copa

  1. Respeito bastante você amigo Gerson. O texto publicado neste blog, escrito por Gabriel, peca em acreditar que as jornadas de junho foram manipulações contra A ou B.

    Entendo que foi um movimento contra o fazer política no País, claro que parte da midia utilizou o movimento para atirar no governo, mas o fogo adversário atingiu a própria Vênus platinada (uma das mídias direitista e que nunca escondeu isso, vale destacar), que era amplamente achincalhada dentro dos movimento.

    Valr dizer que muitos direitista também costumam a dizer que as jornadad de julho visavam um golpe esquerdista, bobagem, como todos sabemos.

    Enfim, creio que dizer que o movimento era contra A ou B é uma forma ingênua de entender as coisas, eu queria acreditar nisso também, pois era fácil, para mim, pocisionar-me.

    Vejo, hoje, o movimento como uma mobilização de questionamento.. uma mobilização para questionar o Brasil e sua forma de fazer política e justiça.

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  2. Quase esqueci, um movimento provocado por um grande evento. Coisa normal que sabemos que iria acontecer. Pois o brasileiro está cansado de como todos os nossos governantes tratam o povo. Espero, apenad, que o Brasil melhore e que os tucanos, que tanyo prejudicaran o Pará com a Lei Kandir, nunca mais assumam o País, quem sabe um outro partido com vies social de verdade, mas tucanos nunca mais. ..

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  3. Celira, mesmo com algumas ligeiríssimas divergências pontuais, assino em baixo, tudo o que você escreveu. E só quem esteve lá, no bojo das manifestações, ou, ao menos, assistiu in loco a passagem delas pode escrever, por exemplo: “(…) mas o fogo adversário atingiu a própria Vênus platinada (uma das mídias direitista e que nunca escondeu isso, vale destacar), que era amplamente achincalhada dentro dos movimento (…).”

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  4. Querer afirmar que as manifestações de junho 2013 foram ato político da oposição contra Dilma é no mínimo achar que todo brasileiro é estúpido e que cada um dos que foram às ruas exigir mudanças num país assolado pela corrupção, descaso e violência ,não passa de massa de manobra. É no mínimo vegonhoso um texto desse, que faz questão de omitir o fato de que um dos pré-requisitos era que o movimento fosse sem bandeiras partidárias.
    O povo não é burro, meus caros, não vão engolir esse texto claramente pró-Dilma.

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  5. Movimentos de protestos mesmo que não tenham cunho político, serão (e sempre serão) oportunidades políticas, querendo ou não!

    Políticos no Brasil, de qualquer partido sempre farão o que sempre fizeram.
    manutenção de seu poder ou tentativa de ascender a ele!

    Entretanto Governo Tucano, espero que nunca mais!

    Até aceitaria outro partido que não o PT, mas PSDB, não!

    Exemplos?

    Vide o Governo do Pará!

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  6. O autor do texto deixa claro que as manifestações de junho, por não terem o rosto bem definido, foram apropriadas por certos grupos que visavam alvejar este ou aquele alvo. No que diz respeito aos grandes veículos de comunicação, os responsáveis pelo relato dos fatos, o alvo foi o governo constituído, por óbvio.
    Participei de algumas marchas na condição de espectador, de um curioso que, com o olhar do historiador, tentava entender o teor dos movimentos aqui em Belém.
    Menos radical no slogan “sem partidos”, de clamor quase totalitário nas redes sociais e nos grandes centros como Rio-São Paulo, por aqui, no entanto, a condição das movimentações eram similares às do eixão: jovens, secundaristas, orgânicos e não orgânicos, integrantes de grupos tradicionalmente envolvidos em questões sociais (“minorias”, movimentos do campesinato, movimentos dos diversos grupos e grupelhos urbanos etc) ou postulantes do “exército de um homem só” que só colocam os pés nas ruas para se locomover de um ponto ao outro; associações de classe e alguns sindicatos também estiveram presentes, sobretudo seus seguimentos mais joviais.
    Jamais se deve desprezar a possível autenticidade das insatisfações que fizeram muitos saírem de suas casas, em marcha, rumo aos palacetes do paço municipal. O que foi, no entanto, diria singular, é que mesmo o tal “apartdarismo” dando as cartas, as convocações via redes sociais para as tais manifestações partiram de grupos políticos tradicionais, com bandeira, rosto e insígnias definidos. Ora, o PSDB jovem, por exemplo, esteve nas marchas que tiveram como alvo o recém eleito prefeito Zenaldo Coutinho, da mesma sigla. Tiro no pé? Ingenuidade? Insatisfação típica daquela faixa etária entre os 12 e os 26 anos? Foi, quem sabe, de tudo um pouco…
    A questão foi justamente esta, que o autor inclusive deixa implícita. Uma movimentação de grandes proporções, sem rosto definido e com alvos difusos, é uma boa oportunidade para grupos com intenções mais ardilosas fazerem valer o ditado que diz ser a ocasião a fazedora do ladrão. E estes grupos estavam atentos a isto. Dentre estes, claro, nossa grande mídia, preposta que é de interesses e interessados com aspirações nada republicanas. E a verdadeira esquerda, que não saiu das ruas e nem expurgou quadros, também navegou conforme a maré… e esta refluiu, como se vê.

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    1. Certeira análise, camarada Daniel. O autor observa, com pertinência, que as manifestações podem ter sido legítimas em suas motivações por melhorias de serviços públicos em geral, mas acabou aparelhada por grupos nem tão ingênuos assim. Como foi o caso daquele sujeito que invadiu a sede do Itamaraty para depredar. Descobriu-se depois que é um militante conhecido do grupo ligado a Marina Silva. A questão é: a quem interessa tumultuar o país, botar fogo nas ruas, justamente em torno de um evento tão importante (e midiático) quanto a Copa do Mundo?

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  7. Pra mim resta bem clara a intenção chapa-branca do texto. Pretende, unicamente, exaltar a figura da Dilma dizendo que a maioria da população quer vê-la comandado as reformas. Não vai além disso. Mas, na realidade, o que a parte do eleitorado quantitativamente decisiva para manter a Dilma no poder quer é a continuidade do conservador programa das bolsas. Note-se que são coisas muitíssimo diferentes, a maioria aqui referida (do eleitorado) e a maioria falaciosamente referida pelo autor do texto (da população).

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    1. Ocorre, amigo Oliveira, que o país vive de fato plenas liberdades democráticas e a presidente Dilma comanda de fato o processo, para insatisfação de alguns grupos bem localizados (e derrotados nas urnas). Reduzir a popularidade e aprovação de seu governo a ações sociais, como o Bolsa Família, é reproduzir uma argumentação preguiçosa bem ao gosto das lideranças tucanas.

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  8. Amigo Gerson, preguiçosa, realmente igualzinha à péssima gestão das lideranças tucanas(ou até pior), é a gestão petista, que nestes quase 12 anos não melhorou em nada as péssimas condições de saúde e segurança da população, inclusive no que respeita aos beneficiários das bolsas. Isso só pra não ir muito longe, porque ainda há os transportes, a educação, o saneamento, as telecomunicações, a energia etc, etc, etc. Enfim, de reiterar, não é a maioria da população que vai reeleger a Dilma, mas, sim, os beneficiários das bolsas. Aliás, os números do TSE relativos às últimas eleições presidenciais provam esta verdade. A presidente, legitima e democraticamente eleita, não obteve a maioria nem dos votos de todo o eleitorado.

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